Por falta de gestão, materiais e remédios, crianças estão morrendo aguardando cirurgia cardíaca pediátrica no DF
O caos instalado na rede pública de saúde do Distrito Federal parece que está bem longe de ter um fim. Durante a 17ª reunião da Comissão Especial da Covid-19 no DF, nesta segunda-feira (23), parlamentares e integrantes do grupo de trabalho ouviram representantes de entidades de famílias, em especial que possuem crianças com síndrome de Down, que aguardam na fila de espera para a realização de cirurgias cardíacas pediátricas nos hospitais públicos do DF.
Além dos familiares dessas crianças, a Comissão também ouviu o relato do responsável pela Cardiologia Pediátrica do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), Dr. Jorge Yussef Afiune, que falou das dificuldades que a instituição vem passando para se manter em funcionamento. O depoimento do Dr. Jorge, talvez tenha sido o mais doloroso desde quando a comissão iniciou os trabalhos. O médico revelou que os procedimentos cirúrgicos não estão sendo realizados.
“Crianças estão morrendo sem serem submetidas a cirurgia”, disse o Dr. Jorge que fez questão de registrar que, nos últimos dois anos, o ICDF não está conseguindo se manter financeiramente e não detém quantidade suficiente de serviços para ajudar a tirar o instituto dessa situação.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), coordenador da Comissão Especial, lamentou que o Distrito Federal tenha chegado a esse tipo de situação.
“Realmente o governo não está tendo controle de nada. Como pode deixar uma instituição como o ICDF chegar a uma situação como essa? É muito triste ter conhecimento que crianças estão morrendo na fila de espera”, disse o parlamentar.
CRIANÇAS COM DOWN – O Dr. Jorge Yussef Afiune explicou as razões científicas que motivam a realização de cirurgia cardíaca em crianças que nascem com a síndrome. Estudos já confirmaram que 50% das crianças com Down devem ser submetidas à correção cirúrgica, uma vez que elas ja nascem com má-formação estrutural no coração, que surge nos três primeiros meses de gravidez, mas não pode ser detectada pelo ultrasom.
O médico lembrou ainda que o ICDF possui excelentes profissionais, principalmente especialistas em cirurgia cardíaca pediátrica, porém, segundo avaliou, “tudo isso hoje, está em risco”. Ele ainda revelou que “as cirurgias cardíacas pediátricas não estão sendo realizadas por falta de insumos (equipamentos, materiais, remédios)”.
FAMÍLIAS REVOLTADAS – A presidente do DF Down, Cleo Bohn, tem uma filha de 11 anos com a síndrome e, desde que ela nasceu, a se tornou militante em defesa das pessoas com Down. Cleo também destacou que os procedimentos cirúrgicos não estão sendo realizados por dois motivos: falta de gestão e insumos. Ela ainda observou que esse tipo de cirurgia não é feito em outros estados do País, o que acaba trazendo pacientes de fora para o Distrito Federal.
“O problema é que, mesmo com as ações judiciais, estamos perdendo nossas crianças. Eles (o governo) não vêm cumprindo a determinação judicial”, revelou.
TESTES DA COVID – Com a notícia de que o governo federal tem mais de 6 milhões de testes prestes a vencer em janeiro, o senador Izalci Lucas disse que o GDF deveria requerer ao Ministério da Saúde que alguns desses testes viessem para Brasília.
“Não tem cabimento o governo do Distrito Federal comprar testes rápidos com essa enorme quantidade de material parado em estoque no Ministério. A não ser que o interesse seja outro”, salientou o senador.