Desorganização e falta de transparência persistem na Saúde do DF, dizem participantes da comissão da Covid

 em Comissões, Saúde

Falta de leitos de UTI, de medicamentos e equipamentos de segurança e pouca transparência foram alguns dos problemas relatados

A situação atual do sistema de saúde do Distrito Federal, com a chegada da segunda onda de Covid-19, foi descrita como problemática e preocupante pelos integrantes e convidados da comissão especial que acompanha as ações de combate à doença no DF. A primeira reunião do ano, conduzida pelo senador Izalci Lucas (PSDB/DF) foi oportunidade para uma avaliação geral de como o DF está enfrentando mais uma explosão de casos. Os participantes relataram que a falta de leitos, medicamentos e equipamentos de segurança para os profissionais da saúde ainda permanece acontecendo.

O senador Izalci Lucas mencionou sua preocupação com a possibilidade de faltar oxigênio para os pacientes em estado mais grave, a exemplo do que aconteceu em Manaus recentemente. O senador citou informação que coloca o DF e a Bahia como cidades onde o fornecimento de oxigênio pode ser insuficiente.  Sobre isso, o presidente do Sindicato dos Médicos do DF, Gutemberg Fialho, disse que esse também é um receio de médicos que atuam na linha de frente de atendimento. A presidente do Conselho de Saúde do DF, Jeovânia Rodrigues, informou que teve conhecimento de que em algumas unidades de saúde já houve remanejamento de oxigênio para outros locais mais necessitados. Para evitar que a situação fuja do controle, foi dada a sugestão para que o Sindicato dos Médicos oficialize essa preocupação ao Ministério das Saúde e demais órgãos competentes.

 

 

Mais transparência

Um dos problemas considerados recorrentes e que foi citado pela deputada Paula Belmonte (Cidadania/DF) foi a falta de transparência com relação à destinação dos recursos para o combate da Covid no DF e a dificuldade de acesso a dados referentes à disponibilização de leitos. Para a deputada, o DF recebeu uma infinidade de recursos que deveriam ter sido aplicados na melhoria do sistema e isso parece não ter acontecido.

“Há falta de transparência para prestar contas para a população coom relação ao uso dos recursos. Estou sentindo esse desencontro entre as informações que o governador fornece e os dados oficiais que não batem”, afirmou.

Sobre isso, Georges Seigneur disse que o sistema de dados do governo local tem tido falhas e informou que  o MPDFT está pedindo informações para esclarecer essa incompatibilidade .

O senador Reguffe (Podemos/DF) lamentou que os recursos enviados ao DF para o combate à Covid não estejam em prestação de contas do GDF. Tanto Reguffe quanto a deputada Federal Bia Kicis (PSL/DF) condenaram a desativação dos hospitais de campanha, criados para funcionarem enquanto durasse a pandemia.

Desativação de leitos

Reguffe disse que o momento é  o mais grave que ele já presenciou e lamentou que as pessoas continuem se aglomerando, perdendo a sensibilidade com relação ao valor da vida. O senador disse não compreender por que os hospitais de campanha foram desativados, uma vez que foram construídos para funcionar durante a pandemia. E informou que propôs a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), no Senado, para investigar o destino dos recursos federais para o enfrentamento da Covid no DF.

A deputada federal Bia Kicis perguntou ao representante do Ministerio Público do DF, Georges Seigneur se houve de fato a recomendação para a desativação dos leitos parra a Covid. Ela lamentou a situação precária das condições de segurança dos profissionais da Saúde, da falta de pessoal e medicamentos.

“Após um ano de pandemia estamos vivendo um flaskback. Falamos em lockdown para que o sistema se preparasse para enfrentar a doença e apesar dos inúmeros recursos, isso não foi feito. É triste ver direitos e garantias fundamentais sendo desrespeitados. Estou muito assustada com a situação. É muita coisa a ser tratada”, lamentou a deputada.

Para o senador Izalci Lucas o que houve de fato foi falta de planejamento,

“O que falta é o governo prestar contas, não recebemos informação sobre o destino de todo esse dinheiro destinado. Estou recebendo pedidos de vaquinha para comprar anestésicos, remédios e todo o tipo de coisa para os hospitais do DF”, mencionou o senador.

 

Acidente de trabalho

Guttembeg Fialho criticou a Secretaria de Saúde por não seguir o plano de contingenciamento que preparou para ser acionado em caso de aumento do número de casos de Covid.

“Por que os leitos não foram reativados?”, perguntou o médico.

Fialho informou que apresentou uma série de denúncias ao Ministério Público que tratam desde a falta de material de proteção e vacinação para os profissionais de saúde até o fato de que o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, Iges-DF, não reconhece a Covid como acidente de trabalho para esse trabalhadores.

“Há um clima de tensão e exaustão entre os profissionais de saúde que estão passando por muito stress e enfrentando uma serie de doenças em razão disso, além da Covid e suas sequelas. Um grupo de médicos escreveu uma carta à população sobre a situação já precária do HRAN e cujo quadro sofreu demissões”, lamentou Guttemberg.

Ações do MPDFT

O representante doo Ministério Público do DF e Territórios, MPDFT, Georges Seigneur, falou sobre algumas das ações mais relevantes do órgão, salientando o acompanhamento da vacinação e a preocupação com relação às aglomerações. Segundo informou, o MPDFT cobrou da Secretaria de Saúde a urgência de disponibilização de leitos de UTI para pacientes que necessitam de dialise. Seigneur também destacou que o órgão vê com preocupação a volta às aulas e esclareceu que o MPDFT não determinou a desativação de leitos de UTI para o tratamento da Covid.

“O que houve foi o encerramento de contratos que não foram renovados e a decisão do governo local de fechar os leitos, em sua maioria para pacientes com sintomas menos graves, em razão da baixa ocupação”, disse.

De olho

A procuradora do Ministério Público do Trabalho no DF, Ana Cláudia Rodrigues ressaltou que o órgão está acompanhando os processos referentes à reativação dos hospitais de campanha, às condições de trabalho dos profissionais de saúde e à retomada das aulas nas escolas particulares e atuando conforme a lei.

Ela disse que a questão do não reconhecimento da Covid como acidente de trabalho, citado pelo presidente do Sindicato dos Médicos, está entre as prioridades do MPT.

“Temos atuado também com relação ao ambiente de trabalho dos profissionais de saúde, questão que é prioritária para Ministério Público do Trabalho. Com relação aos EPIs já temos uma ação judicial em andamento, em fase de execução”, afirmou.

Segurança

Com relação à volta às aulas, Ana Claudia disse que o órgão está trabalhando desde o ano passado e que, nesse momento em que a pandemia se agravou e que foram liberadas o funcionamento das escolas particulares, estão se reunindo com o sindicato dos professores articulares e com as associações de pais e alunos e as escolas para que se possa garantir os protocolos mínimos de segurança de saúde.

Alta taxa de transmissão

A presidente do Conselho de Saúde do DF, Jeovania Rodrigues, disse ver com muita preocupação a situação do DF. Ela citou a taxa de ocupação dos leitos, os índices de atendimento e a taxa de replicação do vírus como os três pontos de preocupação do setor. Jeovania afirmou que o tempo de resposta do GDF para as demandas é grande e considerou que, em função da alta taxa de transmissão da Covid, é preciso tomar medidas conjuntas tanto econômicas quanto de saúde.

“O momento é muito crítico e as projeções são para o dobro ou o triplo do que já tivemos na primeira onda. Temos novas cepas da doença, a vacina ainda não chegou para todos e ainda há o fato da não aceitação da sociedade em seguir as medidas restritivas. O Conselho de Saúde está realmente preocupado. É necessário políticas de estado para contermos a doença e não só aumentar o número de leitos”, disse a presidente.

Mais vacinas

A conselheira e presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB,  Alexandra Tatiana Moreschi, falou sobre as ações civis impetradas pela OAB e informou sobre reunião realizada entre o presidente da OAB e o governador Ibaneis Rocha, nesta segunda-feira,   para tratar sobre a vacinação no DF. Segundo a representante da OAB, o governador informou que  aguarda algumas milhões de dose ainda em março. Ibaneis também teria esclarecido que teve que fechar as UTIs da Covid em razão da não utilização dos leitos e que está tentando contratar intensivistas e que está convocando até aposentados para suprir as demandas da rede de saúde.

Redução de leitos

O senador Izalci citou relatório que apresenta dados sobre redução de leitos de UTI durante o último ano e falou sobre a volta dos atendimentos de outras doenças. Nesse sentido, Jeovania  Rodrigues informou que foram desativados 197 leitos de enfermaria no hospital de campanha do Estádio Mane Garrincha, mais 60 leitos do hospital de campanha em Ceilândia que foram realocados para outros atendimentos e mais uma serie de leitos que foram desabilitados para a Covid  que voltaram a atender outras patologias.

Organizado

O subsecretário de Logística em Saúde, da Secretaria de Saúde, Artur Brito, falou que vai encaminhar dados sobre medicamentos, EPIs e material para intubação de pacientes. De acordo coom o subsecretário, o setor está monitorando o consumo de acordo com a abertura dos leitos.

“Estamos abastecidos. Se há desabastecimento na ponta, temos que ver a gestão local dos estoques, que é a cargo dos superintendentes, para minimizarmos as falhas de comunicação”, salientou.

Artur Brito também falou sobre a dificuldade que o setor esta tendo para disponibilizar alguns itens de proteção, tais como aventais e luvas de procedimentos. Ele se comprometeu a enviar um documento para a comissão com todas as informações necessárias.

“Estamos monitorando estoques e abastecimento para finalizar processos licitatórios e de distribuição de equipamentos e medicamentos. Não estamos conseguindo comprar vários itens para o combate à Covid , então vamos tentar parcerias porque a aquisição no mercado está bem difícil”, lamentou.

Ao encerrar a reunião, o senador Izalci agradeceu as informações e salientou que a comissão tem por objetivo ajudar nesse momento crítico.

“O que queremos é ajudar, não temos interesse de prejudicar ninguém, evidentemente precisamos dar transparência”, disse Izalci.

A comissão volta a se reunir na próxima segunda-feira (15).

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