CPI ouve famílias e vítimas da queda do avião que levava time da chapecoense para a final da copa sul-americana de futebol
Neto, jogador que sobreviveu ao acidente, lamenta que as famílias ainda não tenham respostas concretas sobre o acidente e as indenizações às famílias e sobreviventes
Foi realizada nesta terça-feira (04/02), a primeira audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, que investiga o acidente com o avião do time Chapecoense.
Ao iniciar a reunião, o senador Izalci Lucas (PSDB/DF), relator da CPI, lembrou que a investigação apresenta quatro variáveis: causa do acidente; vítimas do acidente; responsáveis pelo acidente; e indenização. “De forma bem resumida, a principal causa do acidente foi a falta de combustível aliada a uma série de decisões equivocadas. No que se refere às vítimas, a aeronave conduzia 77 pessoas, sendo que 71 faleceram. Nesse caso, todavia, não se pode esquecer que a própria Associação Chapecoense de Futebol também foi vítima da tragédia”, informou.
Entre os participantes estavam Dhayane Pallaoro – filha do então Presidente do time, que se emocionou ao falar do assunto. Segundo ela, no primeiro momento soube que havia sido um acidente, que mudou a vida de 68 famílias brasileiras. “Com o passar das semanas, muitos questionamentos, e a queda da aeronave que se deu por falta de combustível. Então, não foi um acidente, certo? (…) Acho que represento mais de cem filhos que buscam essa resposta”, declarou.
Hélio Hermito Zampier Neto – atleta da Associação Chapecoense, mais conhecido como Neto, que sobreviveu ao acidente, lamentou que as famílias ainda não tenham respostas concretas, nem recebido nenhuma indenização, após três anos da tragédia. O atleta atribuiu a falta de soluções à ausência de vontade política, e disse que muitos utilizam o acidente apenas para se promover. Na opinião de Neto, o desastre foi premeditado já que a aeronave já teria feito a mesma viagem à Colômbia mais de cinco vezes.
“Às vezes, fico com um pouco de raiva quando eu falo desse assunto, o governo não mexer uma palha. Se caísse um avião americano aqui no Brasil e o Brasil fosse errado, as coisas seriam diferentes. A gente tem que ser patriota não da boca para fora”, disse.
Ao agradecer os parlamentares pela instauração da CPI, Neto lembrou que agora é a hora de mudar. “Nós temos a chance de mudar uma história, porque esse assunto já era um assunto esquecido para muitos, inclusive pela imprensa. E é por isso, um dos motivos, que muita gente pós-tragédia falava que o Neto estava depressivo, que o Neto tinha que procurar ajuda. É que eu não queria falar mesmo com a imprensa, porque eu me sentia um produto, e eu não podia dar a minha imagem, sem que houvesse um retorno para as famílias. E eu entendo que esse retorno está começando a acontecer aqui”, declarou.
Marcel Camilo – advogado do jogador Neto, afirmou que o ressarcimento ainda não aconteceu porque as corretoras de seguros estrangeiras entendem ser “fácil enrolar os brasileiros”.
Já o presidente da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic), Fabiano Porto, citou graves dificuldades econômicas dos parentes das vítimas e destacou o protagonismo do Senado na busca de soluções sobre o assunto.
“Chapecó chora até hoje, assim como o estado e o país. Não vou ficar relatando o drama real de cada um, de cada mãe, de cada esposa, de cada criança, mas quero dizer que o Senado Federal é peça importantíssima no auxílio a todos nós, porque eles estavam representando o Brasil”, disse.
A presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C), Fabienne Belle questionou a permissão dos órgãos governamentais à LaMia [empresa aérea dona do avião] para a realização dos voos que, segundo ela, ocorriam de forma inadequada. Ela cobrou a responsabilização dos governos da Colômbia e da Bolívia porque, na sua opinião, ambos falharam.
“Leis de liberdade do ar foram violadas, e nós recebemos a informação de que somente o piloto foi o culpado. Se isso fosse verdade, não estaríamos aqui hoje. Colocamos nossas esperanças nos desdobramentos desta CPI, porque são três anos carregando uma dor profunda, um sentimento de impunidade marcado nos nossos olhares, que não serão diluídos com o tempo”, ressaltou.
Josmeyr Oliveira – advogado da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense relatou que esteve na Bolívia com a Bisa Seguros e Resseguros S/A, seguradora da LaMia. “Depois de uma pressão da mídia, nós conseguimos ser ouvidos. De La Paz, estava um diretor, e nós conseguimos conversar com ele que foi muito reativo, disse que não participaram economicamente de nenhum valor da apólice, porque eles repassaram todo o prêmio (…) E eles lavaram as mãos, disse.
Ao colher subsídios para seu relatório, Izalci afirmou que, apesar de o assunto ainda ser objeto de investigação, o rol de responsáveis pelo acidente com a Chape é extenso. Passa, segundo apontou, pela Lamia; pela seguradora bisa; a resseguradora Tokio Marine; a corretora de seguros Aon; a Estratégia Corretora; o órgão responsável pela proteção de voos da Bolívia; a Aasana, que presta serviços de controle de tráfego aéreo na Bolívia; e pela torre de controle do Aeroporto do Rionegro, em Medellín. Izalci observou que omo a Lamia não tem como indenizar essas pessoas, os responsáveis estariam tentando se eximir das responsabilidades.
Próximas oitivas:
Data: 11/02/2020, com o propósito de ouvir a atuação do Ministério Público
Convidados: Carlos Humberto Prola Júnior, Procurador da República (PRM-Chapecó/SC); Edson Restanho, Procurador da República (PRM-Chapecó/SC); Narciso Leandro Xavier Baez, Juiz da 2ª Vara Federal de Chapecó, Titular da Ação Civil Pública.
Data: 18/02/2020, com objetivo de compreender possíveis relações de indicação ou atesto da empresa aérea LaMia por parte das entidades do futebol, além de outras informações sobre os fatos em exame.
Convidados: Representante da Confederação Sul-Americana de Futebol – Conmebol, organizadora do futebol sul-americano; Walter Feldman, Secretário Geral da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, organizadora do futebol brasileiro;
Data: 03/03/2020, com objetivo de compreender possíveis relações de indicação ou atesto da empresa aérea LaMia por parte das entidades ligadas ao futebol.
Convocação: Rodrigo Ernesto de Andrade, sócio proprietário da Off Side Logística Esportiva, apontada como suposta intermediária na aproximação da LaMia com as entidades organizadoras do futebol brasileiro e sul-americano.
Data:10/03/2020, com o objetivo de compreender possíveis relações de indicação ou atesto da empresa aérea LaMia por parte dos dirigentes da Associação Chapecoense de Futebol e representantes do Município de Chapecó, além de supostas falhas de omissão na entrega de documentação referente à contratação do voo.
Convidados: Luiz Antônio Palaoro, ex vice-presidente jurídico; Plinio David de Nes Filho, ex-presidente; Luciano José Buligon, prefeito de Chapecó.
Data: 17/03/2020, com objetivo de esclarecer as relações da empresa aérea LaMia com as entidades ligadas ao futebol, em especial quanto à contratação do voo, bem como com as empresas de seguro, no tocante à liberação dos recursos referentes à apólice segurada.
Convidados: Marcos Rocha Venegas, sócio proprietário da LaMia; Ricardo Albacete, proprietário da aeronave e suposto sócio oculto da LaMia; Loredana Albacete, proprietária da aeronave e suposta sócia oculta da LaMia.
Data: 24/03/2020, com o objetivo de esclarecer questões regulatórias referentes à autorização do voo e as implicações dos seguros obrigatórios.
Convidados: Administración de Aeropuertos y Servicios Auxiliares a la Navegación Aérea – AASANA (Bolívia); Dirección General de Aeronáutica Civil y Aerocivil – Unidad Administrativa Especial de Aeronáutica Civil (Colômbia); Agência Nacional de Aviação Civil (Brasil).
Data: 31/03/2020, com o objetivo de compreender, sob a ótica das seguradoras, o porquê da demora na liberação do pagamento das indenizações às vítimas e seus familiares.
Convocação: AON Benfield Brasil Corretora de Resseguros Ltda, AON UK Limited e da AON Benfield Limited, corretoras da apólice da LaMia; Bisa Seguros e Resseguros S/A, seguradora da LaMia; Tokio Marine Seguradora S/A e Tokio Marine Kiln Syndicates Limited, Tokio Marine Kiln Group Limited, resseguradoras da apólice da Bisa Seguros.
Data: 07/04/2020, com o objetivo de compreender, sob a ótica das seguradoras, o porquê da demora na liberação do pagamento das indenizações às vítimas e seus familiares dos seguros obrigatórios previstos na legislação brasileira.
Convite: Porto Seguro S/A; Itaú Seguros S/A; Prudential do Brasil; Superintendência de Seguros Privados – SUSEP; Secretaria de Previdência Complementar – SPC.
Data: 14/04 a 02/06/2020, reuniões administrativas, análise de informações e documentos recebidos, eventuais diligências e outras oitivas que venham a ser aprovadas pela Comissão.
Data: 03/06/ a 17/07/202, elaboração do Relatório Final.
Data: 03/08/2020, reunião para apresentação do Relatório Final.
Acesse o plano de trabalho pelo link:
https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2019/12/17/veja-o-plano-de-trabalho-da-cpichape
Fotos: William Sant’Ana
Com informações da Agência Senado.