Professores relatam dificuldades e pedem melhores condições de trabalho

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Em depoimentos emocionados durante sessão do Dia do Professor, eles pediram valorização da educação e de seus profissionais

 Em sessão especial do Senado, realizada nesta sexta-feira (22), para marcar o Dia do Professor comemorado em 15 de outubro, senadores, professores, diretores escolares e representantes de instituições do setor relataram as difíceis condições de trabalho que enfrentam e a falta de infraestrutura nas escolas. Segundo os participantes,  os profissionais da educação ainda convivem com outras dificuldades, tais como baixos salários  e falta de respeito, problemas que se intensificaram na pandemia.

Na presidência da sessão, o senador Izalci Lucas (PSDB/DF), autor da iniciativa de homenagear os professores, lembrou os tempos em que educadores e educação eram valorizados. Ao citar lembranças, dos tempos em que estudou nas escolas públicas  de Minas Gerais e do Distrito Federal, o senador, que se formou professor e deu aulas em escolas básicas e no ensino superior, disse que o respeito  pela educação tem que partir, primeiramente, dos Governos.

“Infelizmente, o que vemos são professores tratados com violência física, além de escolas malcuidadas e, quase sempre, sem infraestrutura adequada para atender nossas crianças e jovens. Não acordo nenhum dia sem pensar nisso, porque sei que tudo que construí foi pela educação que recebi. Lutei e luto pela educação desde sempre”.

Sem recursos

O senador lamentou também o fato de que o ensino tem recebido cada vez menor atenção e menos recursos dos governos. No DF,  Izalci destacou que as verbas disponibilizadas para melhorar o ensino, reformar e construir escolas, não estão sendo aplicadas. O senador relatou que destinou R$ 35 milhões para reformar e para melhorar a infraestrutura das escolas que nunca foram usadas.

“Os recursos foram liberados para o GDF e, em razão da pandemia, as escolas não funcionaram. Por que não fizeram as reformas? Por que não aproveitaram esse tempo para arrumar as escolas, para receber os alunos que tanto almejavam o retorno às aulas?”, perguntou o senador.

Um incidente ocorrido na escola da Vila Planalto, em Brasília, em razão das fortes chuvas, foi citado por Izalci como exemplo de mal uso do dinheiro público no DF. Apesar de recentemente inaugurada, a construção já apresentou uma série de problemas.

“Tive uma grande tristeza ao ver que a escola da Vila Planalto não aguentou as chuvas fortes. Foram três anos de luta para reconstruirmos essa escola. Destinei recursos  e lutei para não perder a verba  e parece que a construção mal feita não aguentou a primeira chuva. Isso é inadmissível! É uma escola inaugurada em janeiro deste ano. Para onde terá ido o dinheiro para construir a escola da Vila Planalto?”, avaliou o senador ao citar ainda outras escolas que tiveram suas aulas interrompidas em razão de problemas estruturais causados pelas chuvas.

Reconhecimento

Os participantes da sessão especial, foram unânimes em destacar que a falta de reconhecimento e de apoio têm dificultado o trabalho de professores e profissionais da educação, principalmente com os desafios impostos pela pandemia.

A Presidente da instituição Todos Pela Educação, Priscila Cruz, disse que os professores tiveram que mudar sua forma de atuação de forma rápida e ágil e conseguiram se reinventar, garantindo a aprendizagem dos alunos. Ela pediu reconhecimento às dificuldades adicionais enfrentadas pela categoria em decorrência do período de isolamento social.

“É para a gente cuidar do professor. Com políticas públicas bem implementadas, continuamente aperfeiçoadas, porque é assim que a gente vai sair do discurso. Isso é urgente, porque se o professor foi importante, fundamental, durante a pandemia, agora nesse pós-pandemia, para a reconstrução da educação brasileira, se torna ainda mais essencial”, analisou.

Rodrigo de Paula, representando o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), registrou que a suspensão das aulas presenciais, em 2020, levou os professores a improvisar formas de ensino à distância sem nenhum apoio do governo. Para ele, essa precariedade revela as enormes desigualdades do setor educacional e levará o país a regredir na comparação com outras nações.

“Nós temos, até o presente momento, alunos da rede pública que estão há quase dois anos sem assistir aulas, porque o governo não teve competência de se reestruturar, de dar as condições para que os nossos educandos e os professores dessem continuidade”, lamentou.

Nesse sentido, o senador Izalci recordou que o Congresso Nacional aprovou projeto que destinou recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, FUST, para colocar banda larga nas escolas públicas, mas que o governo mandou uma medida provisória para prorrogar o prazo de liberação dos recursos para esse fim.

“A gente lamenta muito que muitas escolas neste país ainda não têm agua potável, nem energia. É triste ver que o Brasil não prioriza a educação de fato”, afirmou.

Ana Elisa de Oliveira Resende, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), também pontuou que os professores “dormiram analógicos e tiveram que acordar digitais” com a pandemia, e defendeu a importância harmônica do professor e da escola na formação geral do cidadão.

“O desafio de garantir a aprendizagem de cada aluno, respeitando a sua particularidade, é muito complicado. Somente professores conseguem ter a capacidade para isso, e creio que as famílias puderam perceber a situação durante a pandemia, a importância de um professor que tem uma expertise e que tenha preparo para ensinar”, afirmou.

 

A Diretora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Caseb, em Brasília, Angelita Amarante Garcia acrescentou que, diferentemente da percepção corrente, os professores trabalharam muito durante a pandemia e prestaram apoio importante aos alunos que sofreram psicologicamente com o isolamento. Ela pediu um olhar mais sensível da classe política para a valorização da educação e do professor.

 

“Que o professor não seja só respeitado, mas, sim, valorizado, com melhores condições de trabalho, com melhores recursos e também com melhores salários. Nós precisamos ter também uma paz, uma tranquilidade para poder nos dedicar, dia a dia, à nossa comunidade escolar, à nossa missão. E, para isso, precisamos ser reconhecidos”, disse.

uis Carlos Loyola, professor de português e robótica, ressaltou que na busca do reconhecimento, o professor não quer “ganhar mais”, e sim ter qualidade de vida e falou sobre o papel que o professor desempenha para mudar o mundo para melhor.

“Isso envolve ele saber que a escola dele tem estrutura, que ele pode acolher os seus alunos, que ele, como professor, tem uma internet que vai funcionar, que ele pode fazer um trabalho mais sério ainda, mais sólido ainda e mais dedicado ainda para que isso dê certo. E tempo: tempo para se preparar, tempo para estudar, para fazer cursos.

Ele citou também a importância de projetos que usam a tecnologia para impulsionar o ensino, tais como o Rompendo Barreiras que dá oportunidade de profissionalização para jovens e adultos com tetraplegia ou paraplegia e capacidade cognitiva preservada .

Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares de Educação (Fenepe) e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), também lembrou o grande desafio da retomada da educação no país depois do período de pandemia. A estudante do ensino fundamental, Maria Eduarda Silva Reis, leu mensagem de apoio aos professores no enfrentamento de seus desafios.

Gicileide Ferreira de Oliveira, diretora do Centro de Ensino Especial do Guará (DF) – escola pública que atende a alunos com deficiência, definiu os professores como guerreiros que se doam em prol dos estudantes e alertou para a dificuldade de proporcionar inclusão e autonomia aos alunos em salas superlotadas.

Valquiria Theodoro, mãe e ativista pela educação especial, também citou a pandemia para cobrar adequação tecnológica da área educacional com “engajamento, foco e comprometimento” do poder público. E Maria das Graças de Freitas de Abreu, mãe de aluno do Centro de Ensino Especial do Guará, avaliou que o aprendizado da crise da covid deveria entrar como “uma graduação, uma especialização, um título a mais” nos currículos dos professores.

Izalci Lucas voltou a defender a modernização do ensino público e o uso da tecnologia como forma de atrair os jovens de volta para a escola.

“Eu fico triste porque vai ser uma luta trazer esses alunos de volta, principalmente os alunos do ensino médio. São tantos problemas, muita gente passando dificuldade, milhões de jovens sem perspectiva, exatamente por não terem ainda uma educação que dê a ele condições de entrar no mercado de trabalho, empreender. A gente precisa modernizar tudo isso, entrar na era digital”, avaliou.

Ao encerrar a sessão, o senador prestou homenagem aos professores.

“Se ainda temos essa educação, devemos muito aos professores. Em nome de todos, quero, citar a professora Ângela, do Grupo Escolar Ribeiro Pena, em Araújos, e a minha querida Maria da Conceição Santos, que me ajudava nas tarefas da escola e ficou com a responsabilidade de cuidar de mim enquanto meus pais moravam na roça. O Padre Luiz, que era professor de canto e dava aulas magistrais sobre cultura e arte, em Itaúnas. Aqui, na capital, o Professor Martinho de Souza Maia, que foi professor e diretor do Ginásio do Guará. Então, deixo minha homenagem e agradecimento a essa classe tão importante e desvalorizada no Brasil”, disse o senador.

Com Agência Senado

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